terça-feira

ESPECIAIS 60 ANOS DE RECORD...ARQUIVO X FEZ HISTÓRIA...

ARQUIVO X UM MARCO NA HISTÓRIA  DA RECORD ...FÃNS ENLOUQUECIAM ...A CADA EPISÓDIO.

I Want to Believe
O enredo intrincado e as conspirações que originaramArquivo X  não começaram nos anos 1990, mas décadas antes, quando uma parte da realidade se descolou das impressões corriqueiras e resolveu fazer graça com omundo. Uma cidade nos EUA chamada Roswell, no Estado do Novo México, foi a escolhida. Aquela suposta queda de um OVNI, em julho de 1947, serviu de gatilho para a fusão de verdade e fantasia que tornou as teorias conspiratórias mais interessantes com o passar das décadas. Arquivo Xfoi um marco dessa mescla: uma série capaz de "cientificar" o absurdo, o sobrenatural, o inexplicável.
Quando Chris Carter  chegou com seu projeto na Fox, a realidade das séries de TV não oferecia muita variedade. O universo seriado se dividia entre sitcoms familiares, produções para o público adolescente e séries de procedimento policiais ou médicas. Aos olhos dos executivos, o projeto de Carter parecia mais uma tentativa de jogar com criminologia e sensacionalismo, mas o criador tinha planos mais específicos para o programa, que precisariam de tempo para se desenvolver.
O que Arquivo X pretendia, mais do que investigar crimes em 45 minutos, era teorizar sobre a "verdade". A palavra "teoria" sempre foi perigosa demais, porém, não só para a indústria da TV, mas no entretenimento em geral, onde o verbo "facilitar" sempre imperou. Como Carter convenceu a todos de que buscaria "verdades" entre o raciocínio lógico e o imponderável, entre novas teorias científicas e psicológicas, sem perder o entretenimento (e o espectador) de vista? Com inteligência.
Arquivo X 1a temporada

1ª TEMPORADA: BEM-VINDOS AO PORÃO

David Duchovny chegou a Arquivo X antes de qualquer outro membro do elenco. Ele tinha feito alguns filmes e uma participação marcante na bizarra Twin Peaks, chamando a atenção de Carter e ganhando o personagem de Fox Mulder imediatamente. Já Gillian Anderson só entrou por pura pressão do criador da série, que se recusava a atender aos pedidos da Fox para colocar no papel de Dana Scully uma atriz mais experiente e bonita. Anderson era gordinha, desconhecida e precisou mentir a idade. A demissão da atriz foi pedida um número de vezes, mas Carter sempre a defendeu. Isso foi preponderante para a relação dos dois e para o papel dela no futuro do programa.
Os dois atores deram vida a Mulder e Scully. Ele, um agente que cuidava de um departamento especial do FBI chamado Arquivo X. Qualquer caso que não pudesse ser resolvido pelas vias "normais" era mandado para lá. Mas Mulder começou a incomodar a alta cúpula com suas teorias sobre uma conspiração alienígena, e Scully - escolhida por ser uma cientista cética - foi designada para contestar o trabalho teórico de Mulder. Assim, criou-se uma dinâmica irresistível: ele acreditava em tudo e ela, por sua vez, só no que a ciência podia provar.
O episódio-piloto da série foi feito, a despeito de todos os perigos de cancelamento, do jeito que Carter queria. Apresentou a trama alienígena usando de todo o arsenal de documentos apócrifos que podem ser acessados tranquilamente hoje em dia através da Internet. Apresentou uma abertura sinistra, composta com notas que resistem bravamente aos tempos e inaugurou a taglineque se tornou histórica: "The Truth is Out There", ou "A Verdade Está Lá Fora" no Brasil. Imediatamente esse piloto, que abordava com seriedade única um tema sempre ridicularizado, foi eleito pela comunidade intelectual, nerd, crítica, como um respiro de originalidade na TV. Mas teorizar, argumentar... Tudo isso ainda era novo para o espectador médio.
A primeira temporada transcorreu corajosa, de abordagens incríveis para lobisomens ("A Besta Humana") e Círculos Ingleses ("Assassino ou Assassina"), até a execução de teorias científicas embasadas ("Terror no Gelo"). Volta e meia, discretamente, voltava a falar da conspiração alienígena, em episódios simplesmente fantásticos ("O Ser do Espaço") e aparentemente aleatórios. O plano maior, que viria no futuro a ser chamado de "mitologia", estava ali, lutando para aparecer, emergindo das expectativas de Chris Carter, mas absolutamente ameaçado pela baixa audiência.
O final da primeira temporada foi preparado para ser um desfecho para a série. O episódio provocou o espectador com a inserção definitiva de Scully no universo de Mulder e com a morte do informante dele, o emblemático Garganta Profunda. A tagline de abertura também mudou pela primeira vez. Foi de "The Truth is Out There" para "Trust no One", ou "Não Confie em Ninguém"no Brasil, e a trama se encerrou com o fechamento do departamento. As investigações deveriam continuar, porém, porque a Fox quis: Arquivo X teria uma segunda temporada.
Arquivo X 2a temporada

2ª TEMPORADA: OS FUNDAMENTOS DA MITOLOGIA

Ninguém na equipe contava com a renovação. Gillian Anderson, por exemplo, foi pega de surpresa, em plena gravidez. A trama foi redirecionada para permitir algumas ausências da atriz, o que ajudou a desenhar o futuro de sucesso da série. A decisão de incorporar alguns episódios de mitologia, em meio aos "casos da semana", contribuiu para envolver o espectador no universo de Arquivo X: uma conspiração para esconder a existência de alienígenas, uma ligação direta com Mulder, uma abdução na infância. Essa trama pensada para ser descoberta aos poucos desafiava o espectador a montar o quebra-cabeças.
No clássico episódio "Duane Barry", a agente Scully é abduzida, e esse fato acabou se tornando um dos condutores da mitologia dali por diante. A busca por Scully (que durou apenas dois episódios) aproximou os espectadores dos protagonistas, deu início à torcida por um envolvimento romântico de Scully e Mulder, e aprofundou as expectativas com relação à série.Arquivo X tinha fãs e a "verdade" passou a ser importante pra eles também.
A segunda temporada se confirmou sombria, flertando com o demônio ("Adoradores das Trevas") e com anomalias ("A Fraude"). Enquanto crescia sendo eficaz em tornar "possíveis" teorias ditas inaceitáveis, também crescia com seus "episódios mitológicos", divididos em capítulos duplos ou triplos que gotejavam informações instigantes. A audiência subiu, a série ganhou seus primeiros prêmios Emmy, e a renovação para o terceiro ano veio antes do esperado - e sob imenso alívio.
Arquivo X 3a temporada

3ª TEMPORADA: RESISTIR OU SERVIR?

O final da segunda temporada - com o fascinante "Anasazi" - assumia tantos riscos a médio prazo que os executivos da Fox ficaram apavorados. Achavam que nenhum espectador esperaria meses para ter uma resposta às questões postas no season finale. Mesmo com a audiência digna e os prêmios, continuavam pressionando Carter para manter a série em moldes mais próximos aos de Além da Imaginação, sem conexão entre tramas ou temporadas.
A resposta do criador veio com a premiére do terceiro ano, um episódio duplo. O programa tinha acabado de ganhar outro Globo de Ouro e muito respeito da crítica, não havia por que parar. O ano três veio, então, com uma avalanche de episódios mitológicos, reforçando a conspiração e as dúvidas quanto ao paradeiro da irmã abduzida de Mulder. Aqui foram determinadas as tendências, como as mudanças estratégicas da frase de abertura, a fixação da importância de coadjuvantes (O Canceroso e Alex Krycek foram notados como figuras centrais a partir desse ponto, e um dos principais colaboradores de Carter, Vince Gilligan, soube seguir em Breaking Bad a importância de ter coadjuvantes marcantes) e a dinâmica de troca de informantes.
Também nesse ano começaram a surgir os primeiro alívios cômicos, como no sensacional "Do Espaço Sideral", além de ficar estabelecido definitivamente que inícios, meados e finais de temporada seriam dedicados à trama central. Antes do final da temporada, a série já era uma unanimidade de crítica e provocava discussões a respeito de seus mistérios, que transcendiam o âmbito do programa. Havia uma verdade que se impunha com cada vez mais força: a televisão podia, e devia, almejar mais do que entregas imediatas, semanais. Mostrando tudo nas sombras e sem previsão de respostas, Arquivo X insurgia, anos antes de Lost ou Fringe, como uma poderosa força de sugestão.
Arquivo X 4a temporada

4ª TEMPORADA: O APOGEU

Se o formato mitológico antes era uma dúvida para a Fox, na chegada da quarta temporada essa dúvida se dissipou. O fenômeno tomou proporções globais, e as teorias acerca do programa se tornaram um exercicio regular. Com a mitologia estabelecida, já se podia brincar com ela. Havia uma preocupação de não adiar demais algumas respostas mas, ao mesmo tempo, as renovações ainda aconteciam anualmente, impedindo um planejamento a longo prazo. Fechar contratos como o de Lost, com anos de antecedência, era impensável naquele tempo. Sabia-se apenas que a quarta temporada era um novo degrau de sucesso.
A abdução de Scully na segunda temporada encontrou seu ponto reativo crítico. Todo o quarto ano foi dedicado a explorar o câncer que a personagem adquiriu depois dessa abdução. E Gillian Anderson e David Duchovny puderam conquistar premiações importantes que acreditaram na força de suas atuações apoiadas em "contextos fantásticos".
Foi também uma temporada tão sombria que provocou censuras. "O Lar", escrito pela ótima duplaGlen Morgan e James Wong (criadores da franquia Premonição), era tão perturbador que foi proibido. A mitologia cresceu, com mais tramas ligadas a ela. Se no episódio duplo "Terma" e "Tunguska" vimos uma abordagem surpreendente dos mistérios em torno da atividade alienígena na Rússia e do papel do "Óleo Negro" na colonização (com direito a Mulder exposto a ele), em "Lapso do Tempo I" e "II" o roteiro nos presenteou com perspectivas do fenômeno da abdução que deixam qualquer um de cabelo em pé. Porém, nada era capaz de nos preparar para a trilogia que ligaria o final da quarta temporada ao início da quinta.
Em "A Maior das Mentiras", Chris Carter e Frank Spotnitz se superaram. Scully morrendo, Mulder sendo confrontado com seu pior pesadelo: e se tudo em que ele acreditou até aquele momento fosse mentira? Mas a pergunta não veio pura e foi embasada em uma quantidade inacreditável de correlações históricas que tornaram esse um episódio simplesmente inesquecível. Mulder no território inimigo, autópsia de um suposto alienígena, provas plausíveis de que os aliens podem ser um embuste, e um suicídio. Um final de temporada capaz de arrepiar até hoje.
Arquivo X 5a temporada

5ª TEMPORADA: RESISTA AO FUTURO

Com tanto sucesso, novos lucros começaram a ser planejados. Um antigo sonho de Carter era o filme, e veio o sinal verde para produzi-lo. Embora tenha chegado aos cinemas no intervalo entre a quinta e sexta temporada, o longa foi filmado no hiato entre a quarta e a quinta. Assim, o ano cinco serviu de preparação para o que veríamos no filme. O futuro da série começaria a ser afetado diretamente aqui, já que a quarta temporada lançou mais dúvidas do que a quinta (com apenas 20 episódios) poderia responder.
A primeira temporada exibida em widescreen começou com o episódio duplo que formava uma trilogia com "A Maior das Mentiras". Convencido de que foi obrigado a acreditar em mentiras sobre OVNIs, Mulder passa então a buscar a cura para o câncer de Scully, que acaba consistindo, finalmente, em levá-la de volta ao ponto de partida. "Em Busca da Verdade I" e "II" demonstram segurança dramatúrgica, trazendo a versão adulta da irmã de Mulder à cena e enlouquecendo os fãs com a dúvida de sempre: é ou não é ela?
Com a quinta temporada, cresceu o ímpeto dos episódios experimentais, como "Prometeu Pós-Moderno", todo em preto e branco, e os alívios cômicos se tornam uma tradição esperada ("Vampiros" é um clássico do deboche sobrenatural). O ano cinco explorou mais de Scully, prevendo suas frustrações e reações à maternidade - tão importantes para os últimos anos do programa - e apresentou uma das histórias mais lindas da história da série, "O Serafim".  A temporada também introduziu os Rebeldes alienígenas no centro da mitologia e começou a vislumbrar a necessidade de partir para novos patamares; o filme precisaria ser um divisor de águas e foi planejado para isso. No entanto, a quinta temporada se despediu de Vancouver (onde era filmada), iniciou o discutível ciclo de concessões ao astro David Duchovny e então viriam os anos malditos.
Arquivo X 6a temporada

6ª TEMPORADA: UM TIRO NO ESCURO

O filme foi... ambíguo. Os bastidores do sexto ano? Um caos. A Los Angeles que abraçou a produção era excessivamente solar. Duchovny, na época um astro em transição para o cinema, queria mais espaço nos roteiros, nas produções, no personagem... E mais salário também. As cobranças vinham de todo lado e não demorou muito para isso se refletir na série. Os criadores tinham um problema nas mãos: enrolar os fãs e dar uma volta na mitologia para garantir mais um ano, ou responder (quase) tudo. Decidiram-se pela segunda alternativa.
A irregular sexta temporada gerou muita comoção, pela revelação dos segredos principais, e muito choque, provocado pela quantidade imensa de episódios cômicos e suaves. Ainda que tenhamos unanimidades como "Dirija" e "Laços de Ternura", o público parecia confuso com a comédia romântica forçada pela pressão de resolver a tensão sexual entre os agentes. Carter inventava o que podia, como um episódio rodado em plano sequência ("Triângulo"), e fazia concessões, como o episódio escrito e dirigido por Duchovny ("O Antinatural").
Os segredos da mitologia, amarrados com coesão, redimiram a temporada. O "projeto" de colonização era realmente interessante; o episódio duplo que o revelou ("Dois Pais" / "Um Filho") teve belas reviravoltas e limpou as arestas. E as correlações entre as conspirações e a figura de Mulder - o filho maldito de uma troca venenosa entre homens e entidades - convergiram para um momento de pura catarse. As sequências que mostram como Roswell virou o epicentro dessa parceria sombria são, sem dúvida nenhuma, preciosas para a TV.
Os roteiristas decidiram que aquele seria o fim da mitologia como a conhecemos. A sexta temporada terminou sem garantias de uma sétima, com uma nova história pronta pra ser contada e apenas uma pendência: onde estava Samantha Mulder?
Arquivo X 7a temporada

7ª TEMPORADA: ACREDITE PARA COMPREENDER

Procura-se uma mitologia desesperadamente. Aquilo que tinha transformado Arquivo X num fenômeno - a capacidade de criar um universo cheio de dúvidas - era também a maior pedra no sapato. O sétimo ano foi garantido e prometido como último, e o paradeiro de Samantha era a única coisa que ainda faltava responder. A carência de novas conspirações e novos segredos era tanta que essa foi a temporada com o menor número de episódios mitológicos da história da série.
Isso resultou em um monte de alegorias desnecessárias que em dois segundos vulgarizaram o programa e o desacreditaram perante os fãs. Mais episódios cômicos, mais preocupações tolas com o "romance" entre os agentes. Foi uma temporada tão agonizante que trouxeram Frank Black, o protagonista da ótima série Millennium criada por Carter, apenas para acabar com ele também. Episódios como "A Sexta Extinção Parte II", "O Cigarro da Morte" e "O Mundo Virtual" são tão ruins que envergonham. Porém, Arquivo X acaba sempre encontrando um jeito de mostrar porque se tornou o que se tornou, e no sétimo ano temos uma pequena obra-prima chamada "Sinais e Maravilhas", que teorizou as relações entre o divino e o maligno de forma inspirada.
Os fãs esperaram loucamente para saber o que tinha acontecido com a irmã de Mulder, e boa parte deles ficou furiosa com a resposta entregue por Carter. "Libertação I" e "II" foram escritos com um admirável esmero, episódios tomados de comoção, mas não faltaram críticas ao fator sobrenatural dessa resolução.
O ano sete chegou ao final com uma quase certeza do fim. Como não tinha mais mitologia nenhuma pra explorar, Carter preparou uma abdução para Mulder e deu-se por satisfeito. Porém, a Fox não estava disposta a largar o osso e, na prorrogação, renovou a série. A única certeza era: Anderson vai ficar. E a cena da gravidez anunciada foi inserida na montagem final. Assim, o programa foi para o oitavo ano sem a menor ideia da permanência de seu protagonista.
Arquivo X 8a temporada

8ª TEMPORADA: OS EXTERMINADORES DO FUTURO

Alguns podem achar que é só dinheiro, outros acreditam que Chris Carter ainda enxergava uma vanguarda possível numa das séries de ficção científica mais relevantes da história da TV. Provar que poderia reacender a mitologia com novos elementos, sem Duchovny. Mas o criador estava errado. Ainda que a ausência de Mulder em quase toda a temporada fosse um entrave - Duchovny só aparece em 11 episódios e Robert Patrick assumiu como o novo protagonista - havia um problema maior: os supersoldados.
A mitologia se tornou o problema, porque precisou ser toda refeita - e a série, que era sobre a orquestração entre governo e alienígenas, passou a ser sobre aliens malvadões decepadores de cabeças. O que antes tratava de sombras e sutilezas, entregou-se vadiamente aos efeitos especiais e resolveu apontar todas as luzes para o maniqueísmo. Arquivo X perdeu sua capacidade de teorizar o impossível, dentro do lógico.
Ficamos metade da temporada conhecendo a dinâmica entre Scully e Doggett, o personagem de Patrick. Ela, agora crédula, contra ele, todo cético. A busca por Mulder era plausível e foi conduzida de modo elegante pelos roteiristas. O ótimo episódio "This is Not Happening", que o trouxe de volta, reforçou as qualidades que a série teve, mas todos sabiam que o personagem voltaria, o que tornou o efetivo regresso no episódio "Morto Vivo" uma piada. Mulder morto por três meses? Gente normal contaminada com um vírus (argumento já desgastado na série) e trocando de pele pra virar "supersoldado"? Parecia enredo ruim de filme B.
E lá se vão Scully, Mulder, Dogget e Reyes (Annabeth Gish) - a agente que faria as vezes de Mulder - lutar contra as criaturas invencíveis que faziam parte da nova conspiração. Em comparação com o ano sete, a oitava temporada foi até melhor. Houve bons "monstros da semana" e um apelo inteligente a elementos antigos resgatados. Carter entendeu que não dava mais pra preservar nada do que tinha sido a série e eliminou até seu querido (e fantástico) Alex Krycek. Preparou o terreno para um final épico, com o parto de Scully e a quebra definitiva das relações entre Mulder e o FBI.
O produtor foi correto nesse movimento, mas ainda sofrendo com a necessidade de fazer muita coisa nova funcionar ao mesmo tempo: nova mitologia, novos vilões, novos coadjuvantes, novos protagonistas, e até uma nova abertura, que mudou depois de sete anos intacta. Tudo para justificar os recomeços. A frase de abertura, "The Truth is Out There", não mudou nenhuma vez nesse ano, numa metáfora devastadora para os criadores da série: a verdade estava em qualquer lugar do lado de fora, mas não estava mais ali dentro.
Inacreditavelmente, um nono ano foi encomendado, e Arquivo X voltou para seu fim destruída por si mesma, em definitivo.
Arquivo X 9a temporada

9ª TEMPORADA: A VERDADE INCONVENIENTE

A realidade era essa: tínhamos Scully, Doggett, Reyes, Supersoldados e nenhuma possibilidade de ver Mulder dar o ar da graça antes do final da série. A última temporada de Arquivo X começou com a audiência satisfatória de sempre (mas nada fenomenal como antes), uma abertura totalmente nova e o filho de Scully para segurar as pontas dos mistérios. Não havia mais nenhum respeito da crítica - o que gerou até certa injustiça, numa temporada que teve bons momentos, a despeito de todos os problemas que criou pra si.
Pensando em retrospecto, mesmo com um hiato inteiro pra se planejar, Carter não tinha nenhuma mitologia efetiva nas mãos, apenas a chance de manipular ao máximo o conceito de "supersoldados infiltrados" e as obscuridades em torno do bebê William (que sempre alguém queria matar). Embora a base dramática estivesse erodida, a produção soube investir nessas perspectivas, usando a ausência de Mulder a seu favor, criando um clima de suspensão que favoreceu o programa. Episódios como "Não Confie em Ninguém" foram bem conduzidos, mas ofuscados pelo senso de insatisfação geral.
Robert Patrick e Annabeth Gish, entretanto, pareciam muito felizes em suas posições. A tentativa de manter o programa no ar através dos dois era visível, mas bastava que Scully se ausentasse por um episódio quase inteiro, para a ira dos "excers" descer sobre o mundo de Mr. Carter. Anderson se manteve no programa até então por uma dívida pessoal que se estabeleceu com o criador da série, depois dele brigar tanto por ela no início de tudo. Ainda assim, o cansaço da atriz era notável, e Scully parecia jogada num limbo do qual Mulder, mesmo que para nosso descontentamento, conseguiu se livrar.
Além do ótimo "Não Confie em Ninguém", apenas o episódio "William" conseguiu lançar mão da mitologia de modo realmente eficaz. Ironicamente dirigido por Duchovny, o episódio brincava brilhantemente com as expectativas de Scully, depois que ela conhece um homem desfigurado que diz ser Mulder. O destino de William era igualmente genial. Viu-se ali um pouco do espírito da série, vivo de alguma forma, em meio a episódios estranhos como "Improvável" e terríveis como "Audrey Paulie".
Quando sacramentou-se o fim dos trabalhos, Carter resolveu matar alguém. Os Pistoleiros Solitários amargaram o cancelamento de sua série antes do episódio 14, e amargaram mais ainda um final trágico em Arquivo X que era hediondo de tão descontextualizado. Provavelmente foi melhor perdê-los do que a Skinner (Mitch Pillegi), que ao menos chegou com sua trajetória intacta até aqui. Depois de três anos com problemas para continuar existindo, Arquivo X precisava terminar com o final dos nosso sonhos... Mas não foi bem assim.
"A Verdade", o episódio final, foi exibido em 28 de Agosto de 2002, e logo antes da abertura revelou seu último - e providencial - segredo: a colonização tinha uma data pra começar. Muito antes do fim do calendário Maia ser sinônimo de apocalipse, Carter já usava isso, provando de novo que essa série, por mais agonizante que estivesse, era insuperável na criação de um acontecimento pop. Porém, saber que a colonização começaria em 22 de Dezembro de 2012 acabou sendo o único ponto de interesse do episódio final, que se entregou a uma infindável recapitulação do programa e lamentáveis aparições dos mortos que ficaram pelo caminho. Teríamos dado um reino por um filme entre 2011 e 2012, porque, enfim, a mitologia da série ainda tinha condições de se reesclarecer.
Em duas horas de duração, o episódio final não deu nem um passo sequer em direções realmente surpreendentes. Mulder retornou apenas para que desse um beijo decente em Scully e para fazer um discurso inflamado num tribunal sem pé nem cabeça que avaliaria "seus crimes contra a nação". Ainda que o sentimento fosse de nostalgia e respeito, a série já tinha sido tão maculada que seu encerramento apenas revelou a inconveniência da maior verdade de todas, dura e rigorosa: a hora de acabar já tinha passado há muito tempo.
Mesmo assim, nenhum desses deslizes prejudicou a influência de Arquivo X, que alcançou um status impensável para um seriado de ficção científica de canal aberto. Foi uma série de desafios intelectuais, de reavaliação de crenças e mitos, foi um exercício de escrutínio religioso e moral.Arquivo X foi um marco da junção competente de ciência, teoria e ficção. A maior das verdades escondidas lá fora era essa... Fantasiar, pensar, teorizar... E divertir.NA MINHA OPINIÃO A RECORD DEVERIA REPRISAR A SÉRIE COMPLETA QUE OS FÃS DARIA AUDIÊNCIA ,PENSE RECORD VAMOS EXIBIRNOVAMENTE ARQUIVO X...   FONTE OMELETE 

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